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quinta-feira, janeiro 18, 2007


No deserto americano, um camionista dá boleia a uma rapariga. Em conversa, ela admite que fugiu de casa, e que vai à procura de fama e fortuna em Hollywood. Ele avisa-a de que Hollywood é a primeira paragem para o Inferno, e que se não fosse um amigo a resgatá-lo das ruas, provavelmente estaria morto de SIDA ou overdose. A conversa anima, passa no rádio uma música, eles cantam em conjunto. De repente, surge na estrada... algo... O camionista não tem tempo de se desviar, e o que quer que esteja no meio da estrada é atropelado e dilacerado pelo camião. Sobressaltados, os ocupantes do camião decidem olhar em frente. É melhor deixar tudo para trás. O condutor acelera, e o camião da Acme* segue em direcção ao seu destino.

Atrás deles, a estrada está suja com sangue, pelo, e entranhas. Mas pouco a pouco, os pedaços começam a convergir, e uma forma começa a surgir do monte de carne esmagada. A criatura, finalmente inteira, e depois de muito sofrimento, restaurada, ergue-se nas patas traseiras, claramente bípede. Mas não é um homem. É um coiote.

O Coiote.

Vou confessar-vos uma coisa: eu estou a trabalhar neste post há uns três ou quatro meses.

O que é estúpido, claro! Convenhamos, é só um post para um blog, não precisa de ser uma obra-prima. Ainda por cima, não só é um comic de 22 páginas (o formato americano típico, ao qual eu e montes de pessoas gostam de se referir como floppy), como já tem quase 20 anos. Porque carga de água é que isto me está a dar tanto trabalho?

Assim de repente, a sensação que tenho é a de que já se disse muito sobre este comic em particular ao longo dos anos. Afinal de contas, este é, talvez, o número que marcou a presença de Grant Morrison nos comics americanos. Morrison, uma das vozes mais criativas da BD mundial, iniciou a sua carreira americana com esta série. Foram-lhe oferecidas várias séries possíveis para ele trabalhar e revitalizar, mas ele escolheu deliberadamente o Animal Man, um personagem esquecido, com pouco mais que meia dúzia de aparências ao longo de duas décadas. Mas Morrison viu nele o potencial para explorar várias coisas que lhe tocavam fundo. A mais óbvia, claro, foi a causa ecológica, que se tornou óbvia logo desde o primeiro número da série. No entanto, o que veio a tornar a série quase revolucionária foi a trama que começou, pelo menos tematicamente, a desenrolar-se neste número.

Outra grande dificuldade, para mim, é o facto de eu querer interessar os leitores neste comic. É mais importante que em qualquer outra das críticas que escrevi até agora, porque este é um dos meus comics favoritos de todos os tempos. Quando o li, a minha experiência com comics com algum conteúdo intelectual era, admito, algo limitada, de forma que, por divertidos e ocasionalmente inteligentes que os comics que eu lia fossem, o facto é que nenhum era tão profundo como este.

Caso não tenham percebido pelo primeiro parágrafo deste texto, a história deste comic, entre outros sub-plots (o Animal Man decide que a sua família se vai tornar vegetariana, sem consultar a mulher e os filhos, por exemplo), é a do Coiote, o mesmo que todos conhecemos dos desenhos animados, a sacrificar-se para salvar o seu mundo. A história é complicada, mas basicamente, o Coiote assume uma posição semelhante á de Cristo, oferecendo-se como sacrificio a Deus para que o seu mundo possa viver em paz.

O que me prendeu a mim foram os múltiplos subtextos presentes aqui, e apenas em 22 páginas. A insinuação de que a "realidade" dos desenhos animados é tão válida como qualquer outra, a sugestão de que existimos apenas para entretenimento gratuito dos deuses, a inescapabilidade do nosso destino aos caprichos dos que nos comandam, a nossa vulnerabilidade perante a forma como os outros nos vêem. E também, e para mim, mais que tudo, uma vez que é um tema que ressoa sempre bastante comigo, a importância do auto-sacrifício para bem de outros, por mais fútil que seja finalmente.

Tudo isto, e muito, muito mais, em apenas 22 páginas sobre um coiote.

Dá para perceber porque fiquei agarrado.

Estes temas seriam todos explorados ao logo dos restantes 21 números do Animal Man escritos por Morrison, numa história que se vai revelando cada vez mais pessoal para o autor á medida que vai avançando, e mostrando que, só porque se está a falar sobre super-heróis, não significa que não se pode penetrar fundo na nossa alma e na natureza da realidade.

Essa exploração começa aqui. E mesmo que não leiam mais nada, só este comic vale por si.

(Uma nota adicional: este comic, individualmente, deve ser dificil de arranjar, mas o paperback que o inclui é facilmente encontrado em lojas de comics, tanto fisicas como online. Para vossa referência, a capa do paperback é esta.)
saí­do da mente de Luís F. Alves às 11:17 da tarde
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