Mário Freitas é das pessoas que conheço que tem demonstrado mais interesse em desenvolver a BD em Portugal. Alguns de vocês já o conhecem da Kingpin Books, já nos habituou que não é o homem das palmadinhas nas costas, nem a si próprio as dá. Quando soube que ele estava a trabalhar numa reedição do C.A.O.S., decidi fazer-lhe umas perguntas. Desde já agradeço a disponibilidade que demonstrou.
Porquê uma nova edição do C.A.O.S.?
- Já há muito que havia esta ideia de fazer a compilação dos três números originais que compunham o primeiro C.A.O.S. (e digo primeiro, porque há entretanto um novo em curso). Aliás, cheguei mesmo a prever isso para finais de 2008, mas optei na altura por um reedição melhorada do nº1, dado que sobravam ainda suficientes exemplares do 2 e do 3 que permitiam a venda continuada da série. Passados dois anos, o 2 está esgotado e sobram apenas quantidades residuais do 1 e do 3, pelo que chegou o momento da tal compilação. Como tenho este vício terrível de aprimorar continuamente as edições, achei que uma simples reedição não chegava e deitei mãos a uma espécie de “editor’s cut”, sempre, claro, com o acompanhamento e concordância do Fernando (Dordio, argumentista da série), com quem fui debatendo todas as alterações a acrescentos. Três anos depois do fim da publicação do C.A.O.S., a evolução das edições da Kingpin Books permitirá agora um livro mais “clean”, mais elegante, mais coeso, em resumo, melhor.
Quais as grandes diferenças da primeira versão?
- A primeira grande diferença está na cor, claramente. A partir das cores originais, trabalhei exaustivamente as tonalidades de cada página de forma a tornar a arte mais límpida e perceptível. Optei também por páginas mono ou duocromáticas, cuja cor predominante reflita o ambiente ou o ritmo de cada cena. Temos desde sépias, nas cenas passadas em 1981, até azuis frios para as cenas de Moscovo ou vermelhos intensos para as cenas de maior violência e intensidade. Essa mudança da cor foi acompanhada por vários ajustes no layout e composição das páginas, reforçando a tal claridade e elegância acrescidas a que me propus. Depois, foram acrescentadas mais cinco páginas novas que o Filipe (Teixeira, artista do C.A.O.S.) desenhou e que ajudaram e melhorar o ritmo e o impacto visual de algumas cenas. Fez-se também uma revisão de todos os diálogos, alterando-se o necessário e eliminando-se o que foi considerado supérfluo ou redundante. A própria legendagem foi toda melhorada, com quase todos os balões redesenhados de raiz e a fonte usada igualmente aprimorada. O próprio formato foi redimensionado, tornando o livro mais “pulpish”, à falta de melhor designação.
Como Editor, o que mudou na sua forma de ver a história?
- Vou bater na mesma tecla outra vez: não mudou; evoluiu. Quatro anos de experiência como editor e autor de BD dão obviamente uma experiência e sensibilidade acrescidas, sobretudo depois de se ter oportunidade de olhar para as coisas com o distanciamento que só o tempo confere. A pressão imediatamente anterior ao lançamento de um livro nem sempre permite o descernimento ideal e acabamos, por vezes, por deixar passar coisas que depois nos parecem óbvias. Isto é daquelas coisas que, lá está, a experiência tem ajudado e muito a ultrapassar, mas o C.A.O.S. e o Pig foram sendo os balões de ensaio que nos permitem hoje continuar a dar saltos qualitativos visíveis nas novas edições. O dia em que achasse que já não encontrava nada para melhorar nas edições seria o dia em que arrumaria as botas, porque seria sinal que tinha parado de evoluir, que tinha estagnado e me tornado em mais um anacronismo ambulante da BD portuguesa. Enquanto isso não sucede, cá ando, semeando o caos, porcos, moscas e a felicidade. Por falar em C.A.O.S…. Tem a certeza que já leu AGENTES DO C.A.O.S.: A CONSPIRAÇÃO IVANOV?
Nota: Mário Freitas cedeu algumas imagens para vermos as diferenças (lado esquerdo versão publicada originalmente, lado direito versão reeditada). Coloquei aqui duas, em breve mostro as restantes.