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sexta-feira, setembro 10, 2010


Em 25 de Julho de 1965, como já o tinha feito em anos anteriores, Bob Dylan participou no Newport Folk Festival.

Como o nome indica, o festival dedicava-se principalmente à divulgação de artistas folk, com preferência por novos talentos. Ocasionalmente, alguns artistas já consagrados eram também convidados, e em 65 Dylan já se integrava nesse grupo.

Assim que Dylan pisou o palco, foi vaiado por quase todo o público.

Levava nas mãos uma guitarra eléctrica.

As suas canções, agora a soar mais a Rock’N’Roll que a Folk, foram apupadas com veemência, e após três músicas, Dylan e a banda abandonaram o palco.

A reacção repetiu-se noutros dos seus concertos desse verão. Mas foi diminuindo gradualmente.

Ainda em 1965, Dylan lançou o álbum Highway 61 Revisited. Gravado com instrumentos eléctricos, e influenciado por Rock’N’Roll.

A música pop nunca mais foi a mesma.

E em Tóquio, a mais de 10000km de Newport, Naoki Urasawa aprendia a desenhar.

Na altura apenas com 5 anos, o pequeno Urasawa passava a maior parte do tempo sozinho com a avó, e a sua diversão principal era copiar desenhos dos manga que lia para todos os pedaços de papel que encontrava à mão.

Dos manga que copiava, os seus favoritos eram os de Osamu Tezuka, que viria a ser um dos seus ídolos anos mais tarde.

Com o passar do tempo, os seus desenhos foram evoluindo, ao ponto de já impressionarem alguns adultos ainda na escola primária. O seu talento para a arte tornou-se gradualmente algo de natural para Urasawa, uma parte tão integrante de si que nem lhe ocorreu desenvolver o seu talento academicamente. Tanto que quando terminou a sua carreira académica, fê-lo com um curso de Economia, porque “achei melhor estudar algo que eu não faria se não tivesse que estudar”.

Entretanto, na sua adolescência, tomou contacto com dois artistas que viriam a mudar a sua vida.

Um deles foi Osamu Tesuka, o “pai do manga”. Urasawa já o conhecia bem, uma vez que toda a vida acompanhara o seu trabalho. No entanto, ao ler pela primeira vez a série Phoenix, esta marcou-o pela riqueza humana da história e pela complexidade dos personagens, de tal forma que Urasawa decidiu que aquele seria o tipo de histórias que, hipoteticamente, um dia gostaria de fazer.

O outro artista foi Bob Dylan. Não só porque as suas músicas agradaram a Urasawa, mas também pela sua determinação em seguir o seu próprio caminho, em desbravar o seu próprio percurso independentemente das contrariedades.

Apesar de tudo, Urasawa terminou o seu curso sem grande ideia do que faria com a sua vida. Queria seguir o seu próprio caminho, sim, mas não tinha certezas de que caminho seria.

Essa dúvida acabou por levá-lo, aos 22 anos de idade, a uma entrevista de emprego numa editora de manga. “Não me recordo qual era o emprego”, diria anos mais tarde, “mas não era para mangaka, disso tenho a certeza”.

No entanto, foi exactamente para isso que foi contratado. Fosse por que motivo fosse, o certo é que os representantes da editora viram o seu talento, e após um ou outro trabalho esporádico, presumivelmente como teste (e curiosamente, já desenhados com a mesma caneta que o acompanharia por toda a carreira), deram a Urasawa a oportunidade de criar uma série própria. A série em questão acabou por ser Yawara, um manga desportivo sobre uma rapariga judoka. Foi aqui que começou a parceria com o seu editor e parceiro criativo durante muitos anos, Takashi Nagasaki. A relação criativa entre os dois tornou-se tão estreita, que eventualmente o processo de “escrita” das histórias de Urasawa passou a começar sempre com uma sessão semanal de brainstorming com Nagasaki.



Urasawa tinha consciência da oportunidade que lhe estava a ser dada com Yawara, e estava determinado a aproveitá-la. Mas sabia que não poderia fazer as histórias que queria se não conseguisse antes algum êxito, por isso Yawara foi pensada para ser um sucesso comercial.

Inicialmente, conseguiu-o. Yawara ganhou público suficiente para tornar Naoki Urasawa um nome conhecido, algo para que também contribuiu o seu trabalho apenas na arte de Pineapple Army, série escrita por Kasuya Kudou (a que se seguiu Master Keaton, em parceria com Hokusei Katsushika).

No entanto, nem tudo correu como planeado. Eventualmente, o próprio Urasawa começou a sentir-se limitado, pela série e por si mesmo. Pela série porque não lhe dava a oportunidade de abortar os temas e histórias que queria, e por ele mesmo porque começava a notar limitações nas suas capacidades artísticas. Talvez em consequência disto, os leitores começaram a abandonar Yawara gradualmente.

Quando Yawara finalmente terminou em 1993, Urasawa duvidava das possibilidades da sua carreira como mangaka. Mesmo quando lhe foi oferecida a oportunidade de criar uma nova série (o que o fez pensar finalmente em ter oportunidade de criar uma história com a densidade que desejava), foi-lhe pedido que voltasse a fazer um manga desportivo, um género que continuava a considerar algo limitativo.

Ainda assim, Urasawa esforçou-se por não esmorecer. Como em várias ocasiões da sua vida, inspirou-se no exemplo de Bob Dylan para encontrar o seu caminho. Aceitou fazer o manga desportivo, a que daria o nome de Happy (sobre uma rapariga tenista), mas decidiu fazê-lo à sua maneira. Apesar da temática de Happy ser ostensivamente o ténis, Urasawa usou a história para desenvolver o tipo de personagens complexos de que gostava, bem como para tentar ultrapassar as suas limitações como artista. E gradualmente, à medida que ia ficando mais satisfeito com o seu trabalho, o público foi voltando.



Em 1994, quando terminou Master Keaton, Urasawa criou finalmente uma série exactamente como queria. Essa série foi Monster, e foi a sua consagração como mestre do manga.

Monster conta a história de um médico que sacrifica a sua carreira para salvar uma criança sua paciente, apenas para descobrir anos mais tarde que a criança que salvou é um assassino em série. Quando o médico é acusado dos crimes cometidos, decide abandonar tudo, encontrar ele próprio o assassino, e matá-lo.



Era uma história à medida das ambições de Urasawa. Os personagens eram multifacetados, ninguém era exclusivamente “bom” ou “mau”, e escolhas morais complexas eram constantes ao longo de toda a narrativa. Em termos artísticos, foi aqui que Urasawa finalmente encontrou a sua forma muito pessoal de contar histórias, construindo a narrativa à volta das reacções de momento dos seus personagens, não dependendo de momentos de grande acção. Pelo contrário, a sua predilecção por deixar a história correr a um ritmo lento e naturalista, entrecortada por momentos mais movimentados mas curtos (para além de uma tendência para ser pouco explícito em termos de sexo ou violência, preferindo apenas sugerir em vez de mostrar), valeu-lhe o título de mestre do suspense.

As suas páginas, sempre construídas de forma sóbria, são criadas à volta das expressões e diálogos dos personagens. Consequentemente, a grande maioria das vinhetas de Urasawa são grandes planos dos personagens. Não é invulgar que um momento suficientemente dramático para ocupar meia página ou mais, seja apenas uma expressão facial e/ou uma fala de um personagem.



A sua voz e interesses pessoais continuaram a desenvolver-se mais ainda nas suas histórias. Em 1999, com o final de Happy, Urasawa criou 20th Century Boys, uma história igualmente complexa, para a qual pôde ir beber inspiração ao seu interesse pela música de artistas como John Lennon e (claro) Bob Dylan, ou mesmo os T.Rex, cuja música mais conhecida deu título à série. Mais uma vez, a série nova foi um êxito.



No entanto, apesar de ser um projecto bastante pessoal, Urasawa viu-se forçado a interromper a série quando a história se aproximava do final.

Anos a fio a desenhar 10 a 12 horas por dia, 6 ou 7 dias por semana, mostraram finalmente o seu custo, causando várias deformações no corpo de Urasawa, que já não conseguia desenhar sem dores imensas. Foi forçado a parar, para frustração sua e dos seus fãs.

Chegou a temer ter que desistir da sua ocupação, mas isso acabou por não ser necessário. Após seis meses de pausa e fisioterapia, Urasawa voltou ao trabalho, continuando a história que interrompera, agora com o nome de 21th Century Boys.

Entretanto, Monster chegou ao fim, e apesar de querer abrandar, Urasawa decidiu mesmo assim arriscar um projecto que o fascinava tanto quanto o assustava: um remake da história “O Robot Mais Forte Do Mundo”, um capítulo da história de Astroboy (do seu ídolo Osamu Tesuka) que o marcara especialmente. Apesar de a história o fascinar, e ser rica o suficiente para ter ficado consigo desde a sua infância, refazer o trabalho do seu maior ídolo era uma responsabilidade que não encarava de ânimo leve.



Mas como todos os seus trabalhos recentes, a série a que deu o nome de Pluto foi um êxito com o público e a crítica, tendo sido aclamado por muitos como o seu melhor trabalho até à data, algo que Urasawa atribui mais à história original de Tesuka do que ao seu próprio esforço.

Ao terminar Pluto, Naoki Urasawa contava já com mais de 100 milhões de exemplares do seu trabalho vendidos.



Em 2008, arriscou pela primeira vez mudar de editora, e lançou Billy Bat, trabalho que começou por parecer uma espécie de noir feito pela Disney, mas que depressa se revelou ser mais uma das suas histórias complexas, contando a história de um mangaka no Japão do pós-guerra, com Billy Bat como protagonista do trabalho desse mesmo personagem.

Mais uma vez, Urasawa usava a sua voz artística para explorar os temas que lhe interessam. E mantendo-se fiel a si mesmo, encontrou novamente o êxito.
saí­do da mente de Luís F. Alves às 12:37 da tarde
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1 Comentários:
Ótima matéria.

Urasawa é meu mangaka favorito, mas confesso que conhecia muito pouco a seu respeito.

Agradeço muito.

Saí­do da mente de Blogger Bruno Mãos de Tesouras, às 3:31 da tarde

 

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