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segunda-feira, agosto 31, 2009

A notícia caiu como uma bomba hoje de manhã, e por esta altura já toda a gente sabe.
Sim, a Disney comprou a Marvel. Sim, isso quer dizer que, por bizarro que pareça, personagens como o Wolverine e o Punisher são agora personagens da Disney.
E não, ainda ninguém sabe muito bem o que isto quer dizer, e o impacto que terá.
Sabe-se que em termos financeiros, ambas as companhias beneficiam, e muito.
A Disney continua a ter um lugar de destaque na indústria do entretenimento, mas não obstante a excepção que são os filmes da Pixar, os rendimentos têm vindo a diminuir progressivamente. Além disso, tem falhado sucessivamente nas suas tentativas recentes de conquistar o target demográfico dos adolescentes masculinos, público para o qual criou inclusive o canal Disney XD, mas que ainda não respondeu tão bem quanto a empresa quereria.
Já a Marvel é uma estrela em ascenção. Os filmes e animações rendem imenso, mas por outro lado CUSTAM imenso, e esse dinheiro tem que vir de algum lado. Por mais receitas que os grandes êxitos recentes rendam, bastam um ou dois fracassos sucessivos para a coisa desmoronar-se.
Portanto, o negócio faz sentido. Comprando a Marvel, a Disney adquire produtos já com público incluido precisamente na faixa demográfica que quer, com propriedades milionárias e de êxito relativamente garantido, para não falar de uma fortuna em merchandising. Ganha também uma nova arma para fazer face à sua concorrência no mundo no entretenimento, nomeadamente a Warner, que tem em carteira a DC Comics.
E a Marvel ganha acesso a um público bem mais vasto, através dos meios de difusão e distribuição da Disney, para além de uma segurança financeira bem maior.
Isto do lado financeiro. Aqui ninguém duvida que a coisa é boa para todos os envolvidos.
Mas e do lado criativo? Qual será o impacto deste negócio na Disney, na Marvel Comics, e mesmo na indústria dos comics em geral?
Ainda ninguém sabe, até porque não se sabe ao certo como as coisas vão funcionar daqui em diante.
Se tudo correr pelo melhor, há várias possibilidades excitantes. Como disse acima, os meios de distribuição da Disney vão aumentar a visibilidade da Marvel, e consequentemente dos comics em geral.
Por outro lado, há quem tema que essa mesma distribuição mais alargada leve a que a Disney, empresa tradicionalmente (ou supostamente) conservadora, imponha limites criativos à Marvel que abastardize as propriedades que quer rentabilizar. Lá está, alguém vê a Disney a vender nas suas lojas para criancinhas um comic normal do Wolverine?
Pior ainda: há quem tema que a Disney pode simplesmente fechar a loja em termos de publicação de comics, ou pelo menos tornar a divisão de comics insignificante, e usar as propriedades apenas para as rentabilizar noutros meios. Como argumento, há as aquisições que a Disney fez há anos, primeiro dos Muppets, que praticamente desapareceram, e depois da empresa de comics independente Crossgen, cujos títulos foram simplesmente fechados na gaveta (apenas um, o Abadazad, foi usado noutro formato, mas mesmo esse já foi colocado de lado).
A acontecer isto, teme-se pelo futuro da indústria dos comics. A Marvel ainda é líder de mercado, e há demasiadas lojas dependentes dela. Sem o produto da Marvel, a indústria pode ficar sem base onde se sustentar.
Mesmo que a Marvel continue a produzir comics, e mesmo que estes não sejam censurados ou limitados, a indústria pode sofrer na mesma. Até ao momento, a Diamond Comics é a distribuidora exclusiva de praticamente todos os comics americanos, e a Marvel é parte significativa do seu ganha-pão. Sabendo que a Diamond mesmo assim está em dificuldades, se a Disney decidir distribuir os seus comics exclusivamente por meios próprios, as consequências serão previsivelmente negativas.
Também em questão está a etiqueta de comics de autor da Marvel, a Icon. Esta etiqueta publica uma série de comics que pertencem aos criadores, não à Marvel. Terá a Disney interesse em continuar a publicá-los? E se não o fizer, como reagirão os principais criadores da Marvel, para quem a Icon foi criada como aliciante?
Estes são os medos gerais.
O mais provável, no entanto, é que tudo isto seja alarmista. A Disney já declarou publicamente que não tem qualquer interesse em alterar a maneira como a Marvel funciona, e que a comprou precisamente porque esta sabe gerir bem as suas propriedades, algo que considera uma mais-valia. E dá como exemplo a relativamente recente aquisição da Pixar, que não só deu maior liberdade criativa à empresa de animação, como colocou o próprio departamento de animação da Disney nas mãos da Pixar.
Prometeu também cumprir todos os acordos previamente estabelecidos tanto pela Marvel como pela Disney, nomeadamente os que dão a outros estúdios de Hollywood direitos sobre filmes como as sagas X-Men e Spider-Man. Outro acordo que supostamente será mantido será o que dá à BOOM! Studios o direito de publicar comics não só baseados nas personagens da Pixar como também nas propriedades tradicionais da Disney.
Presume-se que estes acordos não serão renovados quando os contratos actuais expirarem, mas por enquanto é apenas suposição.
E quanto às hipotéticas exigências em termos de conteúdo... Muita gente esquece-se que a Miramax pertence à Disney. E que já pertencia quando produziu filmes como Cães Danados, Pulp Fiction, ou Trainspotting, que portanto são filmes da Disney, mesmo que não pensemos neles como tal. Ser DA Disney não quer dizer que seja MARCA Disney. Presume-se, ou espera-se, que com a Marvel se passe algo de semelhante.
E pronto, isto é o que anda por aí a circular.
E eu, o que acho?
Não sei. Vou esperar para ver. Mas que adorava ver a Pixar a fazer, por exemplo, um filme do NEXTWAVE, isso adorava. É pouco provável, é certo.
Mas agora, a possibilidade existe.
saí­do da mente de Luís F. Alves às 8:52 da tarde
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5 Comentários:
Não me parece que a Disney vá desperdiçar o recurso dos comics, que acabam por ter um público fiel e capaz de gerar receitas significativas. Acho que é do maior interesse da Disney deixar a Marvel a trabalhar como até aqui e planear os lucros; não me parece que tenham gasto cerca de 4 mil milhões de dólares para depois "abafar" a Marvel.
Penso é que a Disney irá estudar formas de suplantar a maior rival, a DC, e tornar a Marvel a editora número um de comics em todo o mundo. Isso poderá conduzir a uma renovação em termos criativos: procurar novos autores, que tragam "sangue novo" e histórias capazes de surpreender o público, elevando assim a editora acima da mediania. Não tem lógica deixar de editar comics, especialmente os das personagens emblemáticas - até porque a melhor forma de gerar lucros com adaptações cinematográficas de super-heróis é manter as suas aventuras em bd; dessa forma, as personagens estão sempre actuais (em termos de existência) e não são uma coisa do passado.
Mas é ainda muito cedo para ver o que irá resultar desta aquisição da Disney e por agora só se pode especular.

Saí­do da mente de Blogger Nuno Miguel Lopes, às 10:23 da tarde

 
Em termos de vendas, a Marvel já é a número um. E não me parece que a Disney esteja muito preocupada com isso. A subirem as vendas de comics, vai ser por mero acidente causado pela distribuição mais ampla, não pela apetência da Disney em destronar a DC.
Onde eles podem, e querem, destronar a DC, ou para ser mais exacto, a Time/Warner, é nos cinemas. Mesmo aí, a soma das receitas dos filmes da Marvel continua a ser superior às dos filmes da DC.
Mas por outro lado, não duvido que a Disney deve ter a mira nos recordes de bilheteira do Dark Knight, já para não falar na recepção crítica. Além de que até parece mal ser a DC e não a Marvel/Disney quem tem melhores séries de animação...

Saí­do da mente de Blogger Luís F. Alves, às 10:28 da tarde

 
Sim, concordo. A forma como foi recebido o Dark Knight (lucros enormes; críticas muito favoráveis; Oscar para um dos actores) deve estar na mente do pessoal da Disney.
Será que ainda vamos ver o Punisher a enfrentar os irmãos Metralha? :p

Saí­do da mente de Blogger Nuno Miguel Lopes, às 10:37 da tarde

 
Também me parece que em termos de edição de comics poucas alterações haverá, até porque enquanto os títulos da Disney tem fechados portas por esse mundo fora, os da Marvel continuam em força nos principais mercados fora do EU. E em equipa que ganha, não se mexe, até porque 4B$ custam a amortizar!

Concordo com o Luís que será no cinema e acrescento os seus derivados (dvd, jogos, merchandising, parques temáticos, animação) que a Disney procurará rentabilizar ainda mais o universo Marvel. Com esta aquisição a Disney visa um público que com a marca Disney dificilmente lá chegaria.

Saí­do da mente de Blogger Nuno Neves, às 10:46 da tarde

 
Ainda estou em choque com o negócio, não por ser mau mas pelo inesperado do acontecimento. Todos vocês referiram o que de mais importante vai acontecer (ou não) neste negócio, mas falta dizer que a Marvel também vai ganhar acesso ao público infantil mais facilmente, mercado esse que eles têm vindo a investir com força e que encontra na Disney um aliado de peso. Basta ver as apostas recentes com títulos como "The Wonderful Wizard of Oz","Marvel Super Hero Squad" e até mesmo futuras novidades como os "X-Babies".
Só o tempo dirá dos resultados desta união, espero que sejam bons... para o nosso bem ;D

Um abraço.

Saí­do da mente de Blogger Unknown, às 11:42 da manhã

 

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